A sabedoria de quem entende a própria natureza
Hoje, na minha caminhada de seis quilômetros pela praia, encontrei a força de quem come jaca com farinha, no café da manhã, bebe água de coco e, depois do trabalho, se estica em uma rede e agradece tudo o que aconteceu.
Duas pessoas, recém chegadas do alto mar, estacionavam uma jangada. No sorriso de uma delas faltava um dente, a outra mais tímida não olhou para mim. Dois tipos físicos comuns, a pele queimada de sol, o rosto com marcas, profundas demais, para a pouca idade.
Enquanto organizavam o material de pesca, uma delas começou a conversar comigo, com a alegria de quem trouxe para casa, muito mais do que uma rede cheia de peixes, dignidade.
Essa pessoa me contou que estiveram dois dias em alto mar e que a maior benção de todas era, sem dúvida, voltar.
Nas palavras dela, os ventos levantaram ondas monstruosas, do tipo que agarra o que está pela frente e sacode até desmanchar. Há muito tempo, segundo essa pessoa, não enfrentavam algo tão difícil: A jangada não virou porque a gente usou todo o nosso balaio de coragem. A coragem para segurar firme na certeza de que aquilo ia passar. E passou e veio a marola e o cardume para encher o prato de comida da semana.
Ainda nas palavras dessa pessoa, outro aprendizado me surpreendeu: Ninguém é dono do mar, nem da jangada, nem do peixe, somos sim donos do medo e da coragem que colocamos entre nós e as coisas.