A fila para apresentar o passaporte fazia inveja a um estádio de futebol em dias de jogo. A única que transitava, fora da linha, era a moça da limpeza. Desfilava com a vassoura, ajudava pessoas com dificuldade, brincava com as crianças.
– Não aguento mais essa demora. Meus pés doem muito. Comenta um rapaz com ela.
– Que sorte, senhor. Os desafios do meu dia provocam dores, da cabeça aos pés. Dor de cabeça por causa das reclamações dos senhores. Nos ombros, para manter o lixo longe daqui. Dor nos braços para apagar a estampa de pegadas no chão. Nos joelhos de arrancar chicletes que parecem feitos com super-bonder. E, finalmente, nas pernas e pés, por percorrer os quilômetros diários de fila. Pelo menos ela eu não preciso enfrentar.