Caminhar foi a solução para aliviar o apetite extravagante que tomava conta do meu estômago e manter as gordurinhas atrevidas longe de mim.
É muito agradável andar pelas ruas do meu bairro; tem sempre uma novidade à espreita; as vezes um cachorrinho novo, uma árvore com flor, a conversa com o guarda que atualiza todos as fofocas do quarteirão.
Isso sem falar no paisagismo. Incrível a combinação de plantas que enfeita o muro das casas.
As modernas abusam das folhagens verdes. As casas de vovó, eu identifico pelas flores; quanto mais flores, de preferência, roseiras, maior a idade da vovó.
No meu bairro, encontro casas que nunca trocaram sequer a cor. Seguiram, por anos, com os mesmos tons sóbrios da época em que eram consideradas modernas.
Fachadas exibindo a frente da casa, por inteiro, estão fora de moda. A maioria se esconde atrás de um muro bem alto. Tem casa antiga disfarçada com muro moderno e vice-versa.
Os muros mantém, do lado de fora o desconhecido e dão ao morador a falsa segurança de que só entra quem ele permitir.
Na privacidade de um jardim, cercado por muros, as pessoas vivem a sua rotina doméstica; se permitem ficar de pijama e com remela nos olhos.
Um corredor de muros, frios e altivos, me incentivava a seguir em frente.
A rua vazia, quieta, daquela manhã, dava a impressão de que a vizinhança tinha sido abduzida.
Depois de vários muros pálidos, encontro um muro ganhando uma camada de tinta que parecia um veludo escuro esticado sobre o concreto. O pintor acabava de passar a última mão. Eu, sem encontrar nenhum ser vivo há meia hora, parei, em frente ao muro, e perguntei:
– Bom dia! Que cor é essa, por favor? Marrom escuro?
– Eu não sei. Se a senhora esperar um pouquinho eu vejo na lata de tinta – ele respondeu.
O pintor atravessou a pequena porta aberta no muro e, logo estava de volta.
– Senhora, a cor não é marrom escuro, não. A cor é marrom flor de baunilha! Devia era chamar outro nome, sabe?! Se a senhora visse o que tem atrás desse muro! Ele disse.
Curiosa, insisti para saber um pouco mais do que esconderia um enorme muro marrom flor de baunilha.
– O que é? Eu perguntei.
– Um caminho para os caramujos! A senhora não acredita! Todo dia eu encontro um escalando para esse lado. A cor do muro deveria ser: marrom caminho dos caramujos, ele disse.
Ri muito com a informação e, claro, todas as vezes que passo em frente ao muro, procuro um caramujo.
Fiquei intrigada… O que havia por detrás do muro?
Olá Eliane,
Eu espero que atrás do muro tenha um lindo jardim, repleto de flores de baunilha…